SINOPSE:
Baseado no livro homônimo de George Orwell, em uma sociedade futurística totalitária, controlada pelo "Big Brother", o amor é proibido. Winston Smith (Edmond O'Brien) é um funcionários do Estado, ele é responsável por reescrever a história e, ao se apaixonar por Julia (Jan Sterling), é visto como rebelde, sofrendo tortura e lavagem cerebral pelo seu crime.
COMENTÁRIOS:
Lançada em
1956, a película é “filha” de seu tempo. Foi gravada na Inglaterra em 1955,
que ainda se recuperava dos traumas da Segunda Guerra Mundial, assim como
muitos países europeus. Além dos destroços da grande batalha, começavam a vir à
tona as atrocidades do nazismo, expressão máxima do totalitarismo; o comunismo
soviético se expandia pelo leste europeu e, com ele, novos ataques às
liberdades individuais por meio do sistema de vigilância monitorado pela Stasi;
e a ameaça de um apocalipse atômico ganhava cada vez mais força. Nos Estados
Unidos, os artistas e intelectuais “simpáticos ao comunismo” eram perseguidos
em nome da “defesa da liberdade”. É neste contexto de confusão e medo que o
livro foi lido e adaptado, por isso o filme capta muito bem a paranoia desta
época, já mostrando nos primeiros minutos uma sequência de explosões de bombas
atômicas, terror que iria marcar as décadas seguintes.
Evidentemente,
a adaptação tomou algumas “licenças poéticas” e alguns nomes foram modificados.
O’Brien é denominado como O’Connor, e o inimigo do partido, Emmanuel Goldstein,
é chamado de Kalador. Por outro lado, a repressão e censura da época vetaram as
cenas de sexo entre Winston Smith e Julia, que seriam essenciais para evidenciar
a repressão sexual promovida pelo Partido. As cenas de tortura também foram
suavizadas e passam muito longe da violência e angústia que percebemos ao longo
da leitura.
A figura de
Winston e sua sagacidade, interpretada por Edmond O’Brien, é bem diferente da
imagem que construí do protagonista do livro. Julia, de Jan Sterling, também
ganha outras características, talvez mais doces e menos transgressoras daquelas
da mulher criada por Orwell. Essa doçura passa, igualmente, para o
relacionamento entre Winston e Julia, algo que não percebi pela leitura.
Porém, a
filmagem em preto e branco, com ambientes mais fechados e padronizados, passou
a mesma sensação claustrofóbica e mórbida que marcou a minha experiência de
leitura da obra orwelliana. Muitas das cenas, especialmente no início, me
lembraram das imagens e vídeos de cidades europeias destruídas após a Segunda
Guerra, novamente um lembrete dos acontecimentos e dos choques recentes.
Desta
forma, o filme não dá conta do conteúdo do livro. Isso parece óbvio e é claro
que, na maioria esmagadora das vezes, o livro será “melhor” que o filme. Mas é
importante fazer esse comentário, pois muitas e muitos de nós ainda pensamos
que essas duas mídias podem ser “iguais” e ficamos completamente decepcionados
ao vermos uma adaptação, que foi feita em outro momento, em outro contexto, com
outros interesses.
Eis uma
outra visão sobre o filme 1984, do professor e crítico de cinema, Arthur
Knight:
“Visualização
sombriamente plausível de Orwell de um mundo totalitário por vir, o filme de
Michael Anderson alcançou a extraordinária façanha de manter ligadas a história
e o tema do original, sem sugerir sua ironia mordaz ou intensa indignação
moral. Orwell escreveu seu livro como um aviso. Michael Anderson dirige o filme
como um fato consumado, jogando-o em uma nota de resignação e desespero que
deixa o espectador sem a menor esperança para a salvação do homem e do espírito
humano. Significativamente, qualquer menção aos ‘proles’, símbolo da
continuidade de vida em Orwell, foi eliminada. Da mesma forma, as cenas de
amor, das quais Orwell havia transformado em gesto último de desafio num mundo
conformista, aqui têm uma cara apática, ausente de paixão, que faz com que a
interrupção pela ‘polícia do pensamento’ torne-se quase um alívio.” (Arthur
Knight, “The Saturday Review”, 2 de junho de 1956).
O filme
mostra um futuro próximo, que poderia vir a se concretizar caso a liberdade não
fosse respeitada. Naquele momento, o comunismo parecia a maior ameaça à
sociedade e seus direitos fundamentais. Hoje, novamente assistimos ao avanço de
governos que flertam com o totalitarismo e que culpam o comunismo por males
diversos. 1984, através do livro e suas adaptações cinematográficas, continua
nos alertando para um futuro próximo. Ou para um presente que ainda não
conseguimos enxergar.
“Ao final
do filme, o triste herói grita, cada vez mais alegremente: ‘Viva o Big
Brother’, enquanto no olho de sua antiga companheira brilha uma lágrima,
derradeiro vestígio de resistência. ‘1984’ é bastante fiel ao espírito do livro
de Orwell e deve ser considerado não comente como um panfleto antistalinista,
mas como uma crítica feroz a todo sistema repressivo e alienante, já que seus
alvos são o fanatismo patriótico, a hierarquia e o culto ao chefe, à exploração,
à submissão e à passividade.” (Jean-Paul Nail, “L’Écran Fantastique”, dezembro
de 1970).
Bruna
Bengozi (Livro & Café)
CURIOSIDADES:
O livro de
Orwell recebeu uma adaptação anterior, mas para a TV, dirigida por Rudolph
Cartier em 1954 para o BBC. A outra adaptação para o cinema foi a versão
homônima lançada em 1984, dirigida por Michael Radford e com John Hurt e
Richard Burton no elenco. Há também uma versão do livro em formato de ópera.
Michael Anderson, nascido em 1920, ficou conhecido por dirigir filmes de guerra e de aventura/ficção científica, como Fuga do Século 23 (1976) e Orca, a Baleia Assassina (1977), assim como adaptações de grandes clássicos da literatura. Além do filme 1984, dirigiu A Volta ao Mundo em 80 dias (1956), adaptado da obra de Julio Verne (1828-1905) e vencedor de cinco Oscars.
SCREENSHOTS:
Casualmente estou lendo esse livro, me encontro no início ainda. Obrigado Karamazov e Carlos por estas versões!
ResponderExcluirO livro é incrível, tenho certeza que vai gostar muito, Major, certamente a sessão será mais proveitosa se ler o livro primeiro, eu li há muitos anos, tenho vontade de reler.
ExcluirAgora com a postagem recente do Carlos, pude conferir a primeira versão para a TV, este de 1956 é a primeira versão para o cinema e continua sendo a minha preferida.
Muito obrigado Karamazov por mais essa, o Space Monster é o lugar tanto para trash movies como para produções muito competentes e que nos faz pensar, tudo issp no universo fantástico que adoramos
ResponderExcluirSem dúvida, Carlos, dentro desse universo fantástico há lugar tanto para o Sci-Fi B que nos diverte quanto para a Ficção Científica que nos leva a refletir.
ExcluirQueria agradecer pelas últimas postagens. Eu só havia visto o filme protagonizado pelo John Hurt. Vcs tem o Brave New World do Brinckerhoff?
ResponderExcluirDe nada, fico feliz que gostou. A primeira versão que assisti também foi essa produção de 1984, mais tarde vi essa de 1956 e desconhecia totalmente a versão anterior postada pelo Carlos. Gosto muito também do livro do Huxley, mas não tenho o filme, vou ficar devendo.
ResponderExcluirThank you very much ! Best regards from Geneva, Switzerland :-)
ResponderExcluiryou are welcome, friend
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