Os críticos consideram o filme “mais amaldiçoado da história
do cinema”. Um filme que abriu as portas para o ocultismo e hermetismo em
Hollywood numa década de “despertar místico e religioso” através das viagens
alucinógenas do psicodelismo e estados alterados de consciência. O Filme
“Incubus” (1966) foi dirigido e escrito por Leslie Stevens (criador da série de
TV “Quinta Dimensão”) e protagonizado por William Shatner, um ano antes de
viver o capitão Kirk da série “Star Trek”. Desde sua estreia, “Incubus” foi
marcado por suicídios, assassinatos, falências, divórcio e incêndio. Tão
amaldiçoado que o diretor tirou o filme de circulação e os negativos foram
destruídos. Para em 1996 uma cópia ser encontrada na França e recuperada para
relançamentos em VHS e DVD. E logo em seguida reiniciaram as “coincidências” fatais.
Muitos pesquisadores em Sincromisticismo consideram Hollywood um “centro de
recrutamento de médiuns”, manipulando voláteis e perigosas formas-pensamento e
arquétipos do inconsciente coletivo. “Incubus” seria um caso exemplar.
O gnóstico pop David Bowie cantava na música “Scary
Monsters (and Super Creeps)”, de 1980, na qual fazia uma espécie de acerto de
contas com a sua geração psicodélica: “Ela abriu estranhas portas que jamais
fecharemos novamente”.
E essas portas foram abertas na cultura pop durante a
década de 1960, uma geração que tentou encontrar a felicidade, espiritualidade,
sagrado e transcendência em regiões ocultas (e muitas vezes sombrias) do
psiquismo através do acid rock e psicodelismo.
O que resultou numa década de despertar místico e religioso,
trazendo de volta utopias primitivas e tribais e uma peculiar leitura
Zen-taoísta de um misticismo da natureza combinado com impulso
transcendentalista das viagens alucinógenas e estados alterados de consciência
– presentes em três álbuns emblemáticos na época: Sargent Peppers Lonely Hearts
Club Band dos Beatles; Their Satanic Majesties Request, dos Rolling Stones; e
The Pippers At The Gates of Down, o trabalho de estreia da banda Pink Floyd.
O filme Incubus (1965) foi um típico filme desse momento
em que os produtores da cultura pop tentaram aproveitar o zeitgeist da década.
Mas nesse caso particular, foi muito mais além do que um mero terror de
entretenimento. Como disse a crítica na época, foi um filme “de ocultista para
ocultistas”.
Escrito e dirigido por Leslie Stevens (criador da famosa
série de TV A Quinta Dimensão) e contando ao seu lado com o ator William
Shatner (um ano antes de se transformar no eterno capitão James T. Kirk da
série Star Trek), Incubus pode ser considerado um caso exemplar de como o
despertar místico de uma geração que combinou psicodelismo e misticismo, abriu
aquelas estranhas portas a que Bowie se referia. E não conseguiram mais fechar.
A maldição de Incubus
Desde a premiere no San Francisco Film Festival em 1966,
o filme foi cercado de tragédias envolvendo atores e a produção, chegando ao
ponto do diretor tirar o filme de circulação. Ao longo dos anos os negativos
originais e todas as cópias existentes acabaram se perdendo. Somente em 1996
foi descoberta uma cópia na Cinemathéque Français em Paris, a partir da qual
foi criada uma versão restaurada para VHS e mais tarde em DVD.
Já na estreia, os primeiros problemas: a cópia exibida
não tinha som. Outra teve que ser providenciada às pressas enquanto os
espectadores do festival aguardavam impacientes.
Em 1966 a atriz Ann Atmar suicidou-se. No mesmo ano o
ator Milos Milos (que interpreta a entidade incubus no filme) assassinou sua
namorada e em seguida se matou. Mais tarde, a filha da atriz Eloise Hardt foi
raptada e assassinada.
Os cenários em que foram rodadas muitas cenas do filme,
incendiaram-se meses depois do lançamento. E a empresa que produziu Incubus
faliu poucos meses depois da estreia em San Francisco.
Mais: o diretor divorciou-se da esposa na época do
lançamento do filme. No ano em que a versão em DVD foi lançada, a terceira
esposa de William Shatner (Nerine Kidd-Shatner) afogou-se em uma piscina.
O diretor Roman Polanski e a atriz Sharon Tate (que mais
tarde seria sua esposa) estiveram presentes no lançamento. Polanski depois
fugiria dos EUA acusado de ter relações sexuais com uma menor de idade. E ela
foi assassinada brutalmente por uma seita de seguidores de Charles Mason, grávida
de oito meses.
Depois de tudo isso todos envolvidos na produção evitam
falar sobre o filme, principalmente o protagonista William Shatner.
O Filme
E para acrescentar a fama de um filme estranho, os atores
do filme falam em Esperanto – língua criada no século XIX por Ludwik Zamenholf
para ser uma segunda língua falada por todos os países, facilitando os
intercâmbios culturais e comerciais.
O que só ajudou a criar em Incubus uma atmosfera surreal
e sombria, em cenários desérticos em meio a grandes campos com construções
quase abandonadas rodeado de florestas escuras, com uma bela fotografia em
preto e branco.
A narrativa gira em torno de um poço, cujas águas
supostamente teria propriedades milagrosas de cura. O que atrai pessoas de
todas as índoles, mas principalmente egoístas e com a personalidade maculada
por “fibras escuras da maldade”.
Atraída por essas mazelas humanas, encontramos Kia
(Allyson Ames), um súcubos devota ao “Deus da Escuridão” – “sucubus”, lenda
medieval sobre demônios de aparência feminina que invadiam os sonhos eróticos
masculinos para lhes roubar energia vital.
Kia encarrega-se de servir o Deus da Escuridão atraindo
homens desvirtuados e corruptos que procuravam as águas do poço, para mata-los,
encomendando suas almas perdidas para o Inferno.
Porém, Kia é ambiciosa: para impressionar o Deus dos
infernos, ela pretende vencer um desafio – dessa vez corromper uma alma pura e
bondosa, apesar dos alertas da sua irmã e mentora Amael (Eloise Hardt): a
bondade por ter forças perigosas e mortais para os súcubos.
O alvo então passa a ser um corajoso soldado herói de
guerra chamado Marc (William Shatner) que, junto com sua irmã Amdis (Ann
Atmar), vem em busca das águas milagrosas para recuperar-se das lesões dos
campos de batalha.
Como as coisas não saem como planejadas (as forças da
bondade de Marc são quase fatais para Kia) invocam a presença de um Íncubo,
espírito masculino especializado em seduzir mulheres para seduzir a irmã de
Marc para dar início a uma batalha pelas almas dos mortais.
A partir daí, Incubus cada vez mais conduz o espectador a
um universo surreal com icônicas súcubos (loiras geladas e elegantes caminhando
pelas praias em busca de almas mortais), seres do além saindo de sepulturas,
cenas violentas de estupros e sequências oníricas como as de um bode demoníaco
em uma igreja.
Mas certamente a sequência mais perturbadora seja a da
invocação do súcubos, com planos muito mais sugestivos do que explícitos ao
estilo do horror gótico do expressionismo alemão – silhuetas de um corpo numa
forca ao lado de sombras de uma criatura com asas.
Tudo isso embalado por uma trilha musical hipnótica, cuja
pontuação das cenas lembra bastante do estilo das velhas séries Além da
Imaginação e Quinta Dimensão.
Explosiva combinação sincromística
Para espectadores atuais, acostumados com filmes nos
quais o medo e o horror genuínos foram substituído pelos sustos dos efeitos
especiais gore, Incubus revela essa dimensão assustadora do horror criado pela
sinergia entre trilha sonora, os sombrios contrastes da fotografia preto e
branco e uma massiva simbologia ocultista e hermética apenas sugerida – o que
aumenta ainda mais o sentimento do horror diante do bizarro, excêntrico e
estranho.
Como um clássico conto fantástico, cada plano e sequência
do filme é carregado de arquétipos e símbolos religiosos e ocultos. De alguma
forma, o diretor Leslie Stevens conseguiu fazer uma explosiva combinação
sincromística.
“Os pensamentos são coisas”, diz um antigo aforismo
oriental. Se isso for verdade, passam a ser compreensíveis estranhas
“coincidências” que cercam filmes que exploraram arquétipos e formas-pensamento
psiquicamente “pesadas”: Batman: O Cavaleiro das Trevas, O Exorcista, Superman,
O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus etc. – sobre isso clique aqui.
Estranhas morte prematuras de atores e celebridades e as
lendas sobre filmes “amaldiçoados” seriam a camada narrativa mais superficial
desse lucrativo negócio que explora o magma do inconsciente coletivo arquétipos
e formas-pensamento) e que muitas vezes o resultado pode ser considerado
imprevisível, com mortes acidentais ou eventos que se transformam em
verdadeiros rituais públicos de sacrifícios.
Pesquisadores em Sincromisticismo mais enfáticos como
Jason Horsley falam de forma direta que Hollywood é um “centro de recrutamento
de médiuns” – indivíduos com personalidades fragmentadas, ideais para
canalizarem e darem vida a formas-pensamento. O que confere performances
“espontâneas” a filmes (que, por isso, tornam-se “cults”). Mas que no final
criam pesadas egrégoras que, em contato com o nosso mundo ordinário, podem ter
efeitos incontroláveis.
Produções culturais que no final se revelam como
“símbolos esotéricos codificados dentro de espetáculos midiáticos ou rituais” -
HOFFMAN, Michael, Secret Societies and Psychological Warfare, 2001.
Por isso, Incubus criou essa fama entre os cinéfilos de
ser o “filme mais amaldiçoado da história do cinema”. Um filme que abriu as
portas para o oculto e o hermético em Hollywood cuja exploração, ao longo das
décadas, tornou-se mais sistemática, metódica e profissional, mantendo o quanto
possível os efeitos sob controle.
Mas ocasionalmente, ocorrem acidentes fatais, como o que envolveu o ator Heath Ledger após dar vida às sombras arquetípicas do palhaço do crime, o Coringa em Batman, e o simbolismo do “Enforcado” do Tarot no filme O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus.
Wilson Roberto Vieira Fernandes (Cinegnose)
Enquanto a distribuição no cinema estava sendo buscada para
o filme, o ator Milos Milos assassinou Barbara Thomason Rooney (também
conhecida como a atriz Carolyn Mitchell, então esposa de Mickey Rooney) e então
se matou após Rooney descobrir o caso. Doze dias antes da estreia no Festival
Internacional de Cinema de São Francisco, a atriz Ann Atmar cometeu suicídio.
Dois anos após a estreia, Marina Habe, filha da atriz Eloise Hardt, foi
sequestrada e brutalmente assassinada. O caso continua sem solução. A
distribuição do filme nos cinemas nunca foi obtida, os originais do
filme foram armazenados e o filme caiu na obscuridade total nos EUA.
Em 1993, foi descoberto que a unidade de processamento e
armazenamento de filmes CFI havia destruído por engano o negativo e todas as
cópias em algum momento durante os 27 anos anteriores. Três anos depois, uma
única cópia foi descoberta na coleção permanente da Cinemateca Francesa em
Paris, uma remanescente do lançamento no cinema francês 30 anos antes. Da única
cópia sobrevivente, o filme foi restaurado digitalmente com som remasterizado.
De acordo com Anthony M. Taylor em uma das faixas de
comentários do DVD, o roteiro foi escrito em inglês e traduzido para o
esperanto. Quando a única cópia francesa sobrevivente do filme foi
remasterizada para lançamento, as legendas em inglês foram criadas com base no
roteiro original em inglês, não em uma tradução do diálogo falado em esperanto
de volta para o inglês. Isso resulta em uma situação estranha para um filme em
língua estrangeira: discrepâncias entre as legendas em inglês e o diálogo
falado são, na verdade, devido a traduções incorretas do inglês para o
esperanto, não vice-versa, ou então refletem mudanças tardias que não foram
corrigidas no roteiro original em inglês.
William Shatner cresceu em Montreal, Canadá, e
provavelmente por isso ele continua pronunciando certas palavras em esperanto
como se fossem francesas. Ouça-o dizendo "sen" (sem) pronunciado como
se fosse francês "sans", ou "sento" (sentir) como se fosse
francês "sentir" (sentir). Para registro, o esperanto não tem sons de
vogais nasais como o francês.
William Shatner filmou isso pouco antes de começar a
trabalhar em Star Trek (1966).
Em seu comentário para o DVD, William Shatner relembrou
um incidente que ocorreu quando o elenco e a equipe chegaram pela primeira vez
em Big Sur, Califórnia. Ele se lembra de um homem "hippie" abordando
a equipe e perguntando sobre seu empreendimento. Shatner diz que o elenco e a
equipe reagiram com alguma hostilidade ao seu interesse, o que o irritou por
sua vez. O "hippie" então lançou uma maldição em voz alta sobre a
produção, o que algumas pessoas acreditam ter entrado em vigor, pois vários
membros do elenco morreram ou foram assassinados alguns anos depois.
A estreia de Incubus ocorreu no Festival de Cinema de São
Francisco em 26 de outubro de 1966, onde, de acordo com o produtor Taylor, um
grupo de 50 a 100 entusiastas do esperanto "gritaram e riram" da
pronúncia ruim da língua pelos atores.
O produtor Anthony M. Taylor e a estrela Allyson Ames se
casaram durante a produção. Eles se divorciaram logo após o fim da produção.
O personagem-título - o Incubus - aparece pela primeira
vez aos 47 minutos do filme de 75 minutos.
O produtor Anthony M. Taylor disse que depois que o filme
foi concluído, ele decidiu inserir novas cenas, incluindo uma em que a
personagem de Allyson Ames está nua na praia com William Fortier. Ele não
perguntou a Ames se ela faria isso e decidiu escalar uma dublê de corpo. Ele
contou a Ames sobre isso e ela não viu problemas, achando engraçado. Depois de
alguma busca, ele encontrou uma dançarina de topless que se parecia com Ames
através de um escritório de elenco. Eles filmaram por dois dias em uma praia
particular onde Fortier conhecia um salva-vidas que os deixou entrar por um
preço. Ele também insistiu em ficar por perto para assistir enquanto eles
filmavam a cena. Taylor disse que eles primeiro filmaram cenas da dançarina
vestindo a mesma roupa da personagem de Ames de filmagens anteriores. Então ela
tirou suas roupas e ficou apenas com uma tanga, correu pela praia de topless, rolou na
água e acenou para Fortier se juntar a ela. Depois que a nova filmagem foi
inserida no filme, Taylor não tinha certeza do que fazer com a nova versão. Não
houve ampla distribuição e apenas algumas pessoas a viram.
As filmagens em locação ocorreram em Big Sur Beach e na
Mission San Antonio de Padua, perto de Fort Hunter Liggett, no Condado de
Monterey. Preocupado que as autoridades não dessem permissão para filmar um
filme de terror nesses lugares, especialmente na Mission (Missão Espanhola),
Stevens inventou uma história de que o filme era na verdade chamado Religious
Leaders of Old Monterey (Líderes Religiosos de Monterey), e mostrou o roteiro
em esperanto, mas com instruções de palco e descrições sobre monges e
fazendeiros.
Um dos dois únicos filmes filmados inteiramente em
esperanto, o outro sendo Angoroj (1964).
Todo o diálogo falado está em mal pronunciado.
Hollywood sempre foi cheio de satanista, orgia e drogas
ResponderExcluirobrigado pela raridade
abs!
Olá Carlos, quando você vai postar no seu blog : Na Mira da Morte ( Targets, 1968) com Boris Karloff , quando o post vai estar pronto ?
ResponderExcluirAguarde e visite o blog todo dia, da mesma forma que me mandam mensagens quase todos os dias perguntando
ExcluirNão sei porque tem tanta gente interessada neste post, isso nunca aconteceu de tanta gente diferente atrás
Vou postar em breve, estou sem tempo, probemas inusitados as vezes aparecem
Demais Karamazov, filme muito raro que foi lançado recentemente em Blu-Ray acho que foi em abril de 2024, sempre quis postar esse filme por aqui, mas a qualidade da imagem que tinha por aí era péssima e eu sempre deixava para frente e também o filme não me atraia muito, agora em blu-ray vamos ver se mudo de opinião
ResponderExcluirMuito obrigado por compartilhar, valeu !