SINOPSE:
ELENCO :
COMENTÁRIOS:
Freddy Krueger é um respeitoso nome na lista dos
antagonistas mais assustadores e inteligentes dos filmes de terror. Com legado
extenso, crossover com Jason Voorhees e uma presença semiótica profunda em
nosso imaginário cultural, não era pra menos a existência de um documentário
retrospectivo que fizesse jus ao seu potencial industrial para gerar discussões
ainda no contemporâneo, mesmo depois de dez anos da última incursão oficial em
seu universo, a refilmagem equivocada de 2010, mesmo ano de lançamento de Never
Sleep Again, documentário dirigido por Daniel Farrands e Andrew Kasch, dupla
que segue o roteiro de Thommy Hutson, autor do livro homônimo, equipe que teve
como narradora, Heather Langenkamp, a intérprete da final girl mais importante
da franquia, Nancy Thompson. Com uma sequência de abertura eficiente, assinada
por Michael Granberry, revisitamos passagens importantes da série por meio do
recurso stop-motion, uma das diversas escolhas felizes na concepção desta
crítica genética do universo criado por Wes Craven em 1984.
Acompanhados pela condução musical de Sean Schafer
Hennessy, compositor que não deixa de prestar as devidas homenagens aos
principais momentos da famosa trilha de Charles Bernstein, nos tornamos
espectadores dos depoimentos de indivíduos que legitimam as abordagens do
documentário que segue a linha cronológica da franquia e se preocupa em
analisar os filmes do primeiro ao último, sempre com a presença dos diretores,
equipe técnica, protagonistas e coadjuvantes, depoentes editados por Andrew
Kasch e Michael Benni Pierce, outro setor eficiente na curadoria do que ia
adentrar ou não na versão final que ficou em 239 minutos que, acreditem, nem
sentimos, pois o ritmo e a quantidade de análises e curiosidades fazem de Never
Sleep Again algo além do entretenimento comemorativo, mas também uma cuidadosa
autoanalise de quem criou estes filmes, agora na posição distanciada de
críticos de seus próprios trabalhos, todos subsidiados por imagens que reforma
o que expõem.
Como não poderia deixar de ser, A Hora do Pesadelo 2: A
Vingança de Freddy ganha um espaço respeitoso dentro da estrutura documental,
mais pelo seu legado homoerótico que necessariamente por sua qualidade
narrativa, haja vista os problemas do polêmico filme que marcou o retorno do
monstro dos pesadelos para assustar os jovens de Elm Street. De maneira
humorada, Jack Sholder (diretor), David Chaskin (roteirista), Jacque Haitkin
(diretor de fotografia), Bob Shaye (produtor), Mark Patton (protagonista) e Kim
Myers (amiga do protagonista) contam diversas histórias dos bastidores sobre um
filme que teve o roteiro modificado ao passo que as filmagens avançavam e por
causa dos interesses de alguns envolvidos, se tornou um dos dez filmes mais
gays da história do cinema. Há breves passagens que descrevem as dificuldades e
mudanças na maquiagem, trilha e efeitos, em especial, a cena com o papagaio que
prenunciava Freddy.
O foco, no entanto, é a sobrevivência da narrativa como a
versão Will & Grace do terror, como brinca a atriz Kim Myers numa breve e
divertidíssima passagem acertada de sua fala. Patton fala do seu
constrangimento após alguns anos, ter revisitado a cena em que imita Tom Cruise
e sua dança no famoso Negócio Arriscado. É um momento exagerado, burlesco, tão
“a mais” quanto as investidas de Freddy com suas lâminas em seus lábios, as
velas derretidas e algumas simbologias fálicas, a fala nervosa ao amigo onde
diz que “tem algo querendo sair de dentro de mim”, a passagem que trata a morte
de seu treinador, o desejo de dormir com seu amigo depois que dispensa
sexualmente a garota que o deseja, a briga na escola que envolve arrastar as
calças do outro pra baixo, com bundas adolescentes expostas, os gritos de
horror estridentes afinal, Mark Patton ocupou um posto em 1985 que era da
famosa final girl, dentre tantas passagens que formam o subtexto riquíssimo de
simbologias impactantes.
Ao chegar na análise da terceira parte da franquia, após
a primeira hora de documentário, os realizadores expõem uma matéria
jornalística da época com o seguinte questionamento: Freddy é o novo Jason? A
pergunta não é nada capciosa, pois o rumo do assassino das lâminas seguia para
o slasher convencional, com excesso de mortes e tramas com pouco
desenvolvimento dramático. Desta vez, Krueger iria enfrentar a final girl
interpretada por Patricia Arquette em sua estreia no cinema. A inteligência e a
sagacidade do personagem ainda continuavam com todo sadismo e pirraça do
monstro, mas as histórias pecavam pela baixa qualidade, tanto no anterior, como
neste terceiro e nos próximos até a sétima parte, marcada pelo retorno efetivo
de Wes Craven na direção e roteiro. Aqui, o cineasta chegou a assinar o texto
em parceria. A sua ideia era superar o filme anterior, pois a trama precisava
acompanhar o processo evolutivo do antagonista. Freddy continuou firme, mas Wes
saiu de cena para outros projetos.
No final das contas, ficou apenas com o argumento,
transformado pelos produtores. A Hora do Pesadelo 3 – Os Guerreiros dos Sonhos
é tido por alguns como o melhor exemplar após o original, mas como o mundo da
crítica é tomado de opiniões divergentes, afinal, arte não é uma ciência exata,
devo dizer que minhas considerações apontam para mais um equivocado exemplar da
franquia, não pior que o seu antecessor ou sucessor, mas ainda assim muito
abaixo da média. Até mesmo alguns dos envolvidos apontam as falhas, juntamente
com os pontos favoráveis do filme tido como um aviso para os pais sobre os
problemas que a ausência de supervisão e encaminhamento pode causar na vida de
jovens. Heather Langenkamp retorna como Nancy Thompson, agora uma psicóloga que
entende perfeitamente os problemas do jovem de um hospital psiquiátrico que
estão envolvidos num conjunto de pesadelos horripilantes.
Na ocasião de A Hora do Pesadelo 4, Robert Englund já
sentia a sua carreira mais que estabelecida. O terceiro filme tinha se tornado
um grande sucesso comercial e muitos fãs adoraram o retorno ao clima do
primeiro, principalmente pelo reencontro de Krueger com Nancy Thompson, agora
adulta. Wes Craven acha o filme interessante, algo difícil de compreender.
Ironia ou realidade? Será um insulto por causa de suas ideias não contempladas
no anterior? Aqui, Freddy continua monstruosamente sádico, sarcástico, poupa
uma personagem negra, discussão que habita o slasher há eras, num dos segmentos
do documentário mais focados na análise de fragmentos do roteiro em paralelo
com a execução destas passagens. A famosa cena as almas aprisionadas pelo
monstro a sair de seu corpo é parte do desfecho desta equivocada sequência que
para Englund, marcou a calcificação de Krueger no imaginário social. Críticas
políticas, denúncias em torno da violência urbana, o personagem como
caricatura, etc. Um marco cultural, mas que trafegava por vias incertas no
quesito qualidade dramática.
Stephen Hopkins assumiu a direção do quinto filme, uma
das sequências mais politicamente incorretas da história slasher, cheia de
cenas de sexo sangrento e outras peculiaridades que a MPAA adorava picotar. A
maquiagem é um dos grandes pontos do filme, como apontam os depoimentos,
conscientes da baixa qualidade dramática da produção que observada com
distanciamento, já havia ido longe demais. “It´s a Boy” era a frase
publicitária, numa trama que envolvia a gravidez de uma personagem “abusada”
por Krueger, um material que precisa ser muito explicito nas mortes para manter
o magnetismo do público. O personagem tinha se tornado uma rizomática presença
na cultura pop. Bonecos, games, séries, pijamas infantis e tantas outras peças
voltadas ao processo de adoração do monstro onírico. Quando A Hora do Pesadelo
6 chegou, em 1991, Freddy já havia ultrapassado todos os limites possíveis. Era
como se as pessoas não aguentassem mais ver o personagem em tramas burlescas e
mortes elaboradas com maquiagens suntuosas, os únicos atrativos para as
sequências.
O interessante neste trecho é a inserção de uma mulher na
direção, Rachel Talalay, e a histeria coletiva em torno dos fãs de Freddy
Krueger, responsáveis por organizar um evento onde simularam o seu enterro,
haja vista o suposto fim (definitivo) da franquia. Assim partimos para a
próxima, com uma questão: é heresia falar que considero o sétimo filme melhor
que todos os seus antecessores? Para alguns pode ser, mas cinema é arte e
sensibilidade, então o processo de recepção é relativo para cada espectador,
não é mesmo? Wes Craven retorna e segundo os depoimentos, sabia exatamente o
que fazer neste filme que antecede a franquia Pânico e seu processo
metalinguístico posterior. O monstro ressuscita, mas desta vez, para ser parte do
mundo real. Os principais membros da equipe original retornam nesta produção
que demarca os 10 anos de lançamento do filme ponto de partida. Heather
Langenkamp interpreta a si mesma, uma atriz que precisa lidar com o legado do
clássico que na atualidade, invade a sua vida pessoal. Ela não quer mais fazer
parte da indústria, mas as ameaças constantes e o transtorno que envolve a vida
de seu filho parecem ser o inicio de um pesadelo que ela precisará dar fim com
a reinterpretação de seu personagem.
A abertura do filme homenageia Roman Polanski e a relação
entre ficção e realidade também englobou os bastidores, com os terremotos que
sacudiram a região em questão, tema que é aproveitado no filme. Heather,
ameaçada por um fã irritado com o desfecho da franquia, traz para o filme a
sensação que a tomou durante algum tempo em sua vida pessoal. Grandioso
esteticamente e com construção dramática no mesmo nível de seu diretor, O Novo
Pesadelo – O Retorno de Freddy Krueger não foi bem nas bilheterias, haja vista
a concorrência desleal com o sucesso de Pulp Fiction – Tempo de Violência, de
Quentin Tarantino, lançado na mesma semana. O prestígio crítico, no entanto,
foi enorme, com críticas favoráveis e preparação de Craven para o que viria nos
quatro próximos filmes da franquia de Ghostface. Na abertura do primeiro filme
de sua nova franquia, ele se “vinga” em relação ao que houve nos filmes que
sequenciaram seu clássico instantâneo de 1984. Drew Barrymore conversa com o
seu assassino ao telefone e diz “que o primeiro foi bom, mas os restantes uma
porcaria”.
Para o final, o crossover de Freddy com Jason, tão
idealizado durante os anos 1980 e 1990. Com os direitos da franquia Sexta-Feira
13 nas mãos da Paramount, a associação entre os dois mais famosos monstros do
slasher levou bastante tempo para ganhar as salas de cinema e se tornar o maior
evento cinematográfico das séries, mesmo que a sua qualidade seja questionável.
Eu, particularmente, considero a união muito histérica e presa ao CGI para
funcionar, quando de fato temos dois universos com amplo legado e capacidade de
causar pavor e magnetismo do público sem tantos efeitos visuais
computadorizados. A narradora Heather Langenkamp comenta que o filme tinha como
base os mashups dos clássicos realizados nos anos 1930, mas agora, para as
frenéticas plateias contemporâneas. Entre uma versão e outra da história, a
confecção do crossover envolveu várias versões diferentes, insanidades oriundas
das ideias de em média 18 roteiristas que passaram pela história. Wes Craven,
em seu distanciamento, conta que para ele, tudo tinha terminado devidamente bem
em O Novo Pesadelo, o sétimo filme de Freddy.
É nesse filme que temos também a polêmica demissão de
Kane Hodder, inicialmente cotado para interpretar Jason. Robert Englund
continuou como Krueger, algo que ao menos não irritou a parcela que torcia pela
vitória do antagonista dos pesadelos. De maneira humorada, o documentário
apresenta quem acha que Freddy ganhou, depois, os que acreditam na vitória de
Jason, e, por fim, aqueles que acham que os dois saíram na mesma depois do
confronto que em uma das versões, teria Pinhead como mediador do embate, vocês
acreditam? Houve também a proposta de colocar Jason em um julgamento pelos
crimes cometidos em Crystal Lake, algo que seria midiaticamente espetaculoso,
tal como a história de O. J. Simpson. Alguns também sugeriram que Freddy
tivesse estuprado a mãe de Jason e um filho fosse a continuidade para um
embate. Como o leitor pode ver, não faltou criatividade no processo produtivo.
Por fim, o legado de Freddy é reiterado, Wes Craven fala sobre sua lápide e
reconhecimento como criador do monstro e outros depoimentos são expostos,
voltados ao relacionamento de cada um com o filme, algo que pode ser pensado
como um feixe de opiniões que dialoga com o coletivo da recepção, nós, que de
alguma forma, também nos sentimos parte da história destas franquias que
adentram em nossas vidas não apenas como entretenimento ligeiro...
SCREENSHOTS:
Que surpresa Karamazov, post animal cara , hoje em dia tem cada documentário, um melhor do que o outro
ResponderExcluirEstou preparando uns posts de filmes dos monstros da universal todos em HD e com comentários legendados mais os documentários de cada filme, em breve estarei postando
Valeu Karamazov já estou baixando !
Fala, Carlos! Maravilha que gostou da postagem, amigo! Vou trazer em breve outro documentário que tenho certeza que vai gostar! Vou ficar de olho nessa sua mega postagem: sou fanático pelos monstros da Universal, não posso perder! Valeu, grande abraço!
ExcluirPostagem sensacional Karamazov, não conhecia esse documentário, mais um que vai pra minha coleção. Postagem sensacional, muito obrigado irmão.
ResponderExcluirÓtimo saber que gostou, Black TRV, disponha, irmão!
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